Blog Ciência – Mulheres viajantes

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Mulheres viajantes: pensando os usos das redes sociais para as mulheres turistas

por Beatriz Rosa do Nascimento Silva e Camila Maria dos Santos Moraes

Cada vez mais as mulheres ocupam diferentes espaços na sociedade. Saindo da vida mais dedicada a casa e conquistando a rua, as universidades e o mercado de trabalho. Neste texto, abordamos uma nova fronteira conquistada pelas mulheres – a fronteira do turismo –, mas não como trabalhadora do turismo ou como a mulher hospitaleira que recebe em sua casa, estamos interessadas na mulher turista, a mulher viajante. E para essa mulher viajar de forma mais autônoma e segura ela encontra nas redes sociais importantes aliadas.

A vida social digital tornou-se uma base fundamental para o fomento do turismo, são blogs, páginas, grupos e perfis sobre viagens que fazem com que cada vez mais pessoas busquem viajar. Isto não é diferente em relação às mulheres, que demonstram se utilizar arduamente das redes sociais e mídias digitais para buscar informação e incentivo para suas viagens.

No Facebook e Instagram são mais de 200 grupos públicos e privados, páginas ou perfis relacionados a viagens de mulheres. Esses espaços virtuais reúnem mulheres em sua grande maioria dos Estados Unidos, América Latina e Europa, ou seja, majoritariamente, mas não somente, de mulheres brancas, urbanas e ocidentais que formam grupos e redes para desenvolver conversas, narrativas e troca de informações relacionadas as viagens de mulheres. Um único grupo de mulheres e viagens no facebook reúne mais de 1 milhão de mulheres e um dos perfis mais populares no Instagram passa de meio milhão de seguidoras.

Os números indicam que há uma busca de mulheres que desejam participar desses espaços e encontram nessas redes um importante suporte. Nos grupos do facebook, encontramos algumas regras interessantes, como não realização de promoções de empresas ou agências relacionadas a turismo. Entretanto, há autopromoção, exposição de blogs e perfis do Instagram que são autorizados, já que a função de criadoras de conteúdo digital vem crescendo cada vez mais. No entanto, o que há de mais legal são as discussões encontradas nos grupos.

O tipo de publicação mais recorrente e precursora dos grupos e perfis são as famosas dicas de viagens”. Os grupos têm como sua principal iniciativa as recomendações sobre lugares para conhecer, onde se hospedar, como chegar, entre outras dicas que ajudam outras mulheres que pretendem viajar para o mesmo lugar. Mais recentemente, essas dicas deram lugar aos chamados relatos de viagem”, que funcionam como as dicas, mas trazem mais informações pessoais e subjetivas relacionadas as experiências dessas mulheres durantes suas viagens e se aproximam de textos motivadores.

Outro tipo de publicação que já foi mais frequente nos grupos, se refere às questões de segurança/insegurança”. A temática da segurança da mulher em viagens é exposta a partir de relatos de participantes ou por notícias de jornais publicadas por elas, como forma de apoio e precaução para sempre se manterem informadas. É um tipo de postagem relacionada a dicas/relatos” de viagem, porém a mensagem é menos positiva e mais de cautela e cuidados que as mulheres viajantes devem ter para não sofrerem abusos e/ou furtos nas hospedagens e em lugares turísticos.

Percebe-se, que dentro dos grupos de mulheres o debate sobre segurança/insegurança da mulher viajante é fundamental como uma forma de não desmotivar novas mulheres a viajar e que mesmo diante de relatos de violência, compreendam que uma mulher viajar sozinha é movimento, é militância, é luta por liberdade, pelo direito de ir e vir.

Por fim, encontramos as publicações do tipo “busca por companhia de viagem”. Mesmo em grupos que incentivam viagens solo, ou seja, viagens de mulheres sozinhas, encontramos postagens em busca de uma companhia de outra mulher para viajar, seja por segurança, seja pela cultura e hábito de sempre ter alguém junto.

As viagens realizadas por mulheres (não a trabalho ou em família), são um universo a ser explorado. Percebemos nas postagens que, a partir das situações e experiências durante as viagens, as mulheres experimentam liberdade e independência. Vimos o quanto a formação de redes no Facebook e Instagram muitas vezes viabilizam as viagens dessas mulheres, na medida em que contribuem para o estímulo e planejamento da viagem e até suporte quando necessário durante a viagem. E, por vezes, a conexão entre mulheres chega a superar o contato apenas virtual e elas de fato se encontram na viagem.

Encontramos negócios, empresas e agências voltadas para o público feminino, há inclusive o Encontro Brasileiro de Mulheres Viajantes, que já está em sua quarta edição. Sua idealizadora é jornalista, turismóloga e viajante, e apresenta o evento como um espaço para incentivar mulheres a viajar, além de abordar dicas de viagens, planejamento, experiências e até mesmo informações para quem deseja iniciar carreira na área do turismo.

Entendemos, então, esses grupos e perfis de mulheres e viagens nas redes sociais como uma resistência ou organização necessária para as mulheres e seu acesso à direitos, como o direito de ir e vir e o direito ao lazer. E agradecemos as mulheres viajantes pelo mundo que se organizam para irem aonde elas quiserem.

 

Beatriz Rosa do Nascimento Silva

 

 

 

Beatriz Rosa do Nascimento Silva

Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Durante a graduação participou do PET – Turismo com orientação da professora Camila Moraes. Após sua graduação, seguiu carreira na área de hotelaria e atendimento ao cliente, e hoje trabalha na empresa Hurb como Customer Experience.

 

 

 

Camila Maria dos Santos Moraes

 

 

 

 

Camila Maria dos Santos Moraes

 Coordenadora da TurisData: base de dados sobre os estudos do turismo e das mobilidades e Professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

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