A Exposição Obras-Mapas Ecos na Vista
A exposição Ecos na Vista, instalada no terraço do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), é fruto da residência artístico-pedagógica desenvolvida no âmbito do CONSCIÊNCIAS, projeto da Gerência de Educação do Sesc RJ dedicado a promover a educação antirracista em todo o estado do Rio de Janeiro. Mais do que um resultado estético, Ecos na Vista se apresenta como processo: um gesto coletivo de investigação, criação e restituição de presenças que, apesar de fundamentais para a constituição da cidade e da cultura brasileira, foram apagadas pela historiografia oficial e pelos livros didáticos. Ao sobrepor camadas de memória à paisagem urbana visível, a exposição tensiona as formas tradicionais de narrar a nação, convocando o público a enxergar outras camadas da cidade e da trama social.
A residência contou com a condução de Pedro Pessanha, artista e pesquisador. Somaram-se ao processo Paulo Knauss, pesquisador e curador do IHGB, e os pesquisadores Ana V. Lopes e Douglas Lemos, que ampliaram o repertório crítico. O percurso metodológico combinou formação teórica e produção prática, com encontros voltados a debates sobre história, memória e cidade, seguidos de oficinas de tecnologia de desenvolvimento de filtros em realidade virtual.
A relevância da participação dos residentes se expressa não apenas nas obras agora apresentadas ao público, mas sobretudo na pesquisa minuciosa sobre personagens e territórios ausentes da memória oficial. Esse exercício de devolução e reconhecimento transforma a exposição em um espaço de reparação simbólica e epistêmica, no qual a arte se converte em dispositivo de justiça histórica.
Assim, convidamos o público a caminhar pelo terraço do IHGB, ativar os filtros de realidade virtual, reconhecer as camadas da cidade e deixar-se atravessar pelos ecos que ressoam além do visível. Esta exposição é um convite à escuta daquilo que insiste em permanecer, mesmo diante do apagamento: as presenças negras, indígenas e populares que formam a base viva de nossa história e que, agora, retomam seu lugar no horizonte da cidade e da imaginação coletiva.
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro: Museu histórico · Av. Augusto Severo, 8 – Glória, Rio de Janeiro – RJ
Sobre a Residência Ecos na Vista
O projeto CONSCIÊNCIAS, da Gerência de Educação do Sesc RJ, fundamenta-se nos conhecimentos produzidos pelas ciências humanas e sociais e tem como proposta a execução de uma agenda sistemática de programações que abordam as questões étnico-raciais, o racismo e seus múltiplos efeitos na sociabilidade da população negra no Brasil, entre os quais se destaca a violência insidiosa contra os afro-brasileiros. Nesse sentido, busca desenvolver ações educativas com um olhar cuidadoso e, em seu escopo mais amplo, ampliar as formas de diálogo sobre o racismo estrutural — fruto de um processo histórico —, contribuindo para o fortalecimento de espaços de troca e para a tomada de consciência acerca da justiça racial e social.
Em 2025, intensificamos ações de caráter prático e aplicado, voltadas à formação e à inclusão de pessoas negras e periféricas em espaços criativos de tecnologia e em ambientes de produção de conhecimento acadêmico.
Um dos objetivos do projeto CONSCIÊNCIAS é também contribuir para a representatividade de pessoas negras nos mais diversos espaços sociais, sobretudo na academia, na produção do conhecimento e nos centros de desenvolvimento de tecnologias. Entre as ações estratégicas para este ano está a realização de residências artísticas, pedagógicas e tecnológicas com profissionais negros de alta referência e relevância nessas áreas, voltadas ao público do Sesc RJ, em especial a estudantes, trabalhadores e comunidades negras e periféricas.
A primeira proposta é a Residência Artístico-Pedagógica Ecos na Vista, com Pedro Pessanha e convidados. O projeto prevê uma dimensão formativa e uma prática artística que dialogam entre si, culminando na exposição Obras-Mapas Ecos na Vista, no IHGB.
A Residência Ecos na Vista e o IHGB

O prédio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), localizado no bairro da Glória, região central do Rio de Janeiro, possui em seu terraço uma vista privilegiada: um panorama que se estende dos Arcos da Lapa às praias da Enseada de Botafogo e do Flamengo. Além de impressionar pela beleza, esse horizonte abarca diversos palcos de episódios importantes da história carioca e brasileira.
A herança escravocrata marca a fundação da cidade. Muitas casas foram demolidas, muitas pessoas expulsas, muitos sons empurrados para as periferias do olhar. Mas, como em um palimpsesto, todos os apagamentos deixam marcas e pistas. Algo ainda ressoa na paisagem: o eco do que não está mais visível.
Quais foram os personagens que caminharam por essa cidade e contribuíram para sua formação cultural, mas cujos rostos não estão gravados nas estátuas das praças nem seus nomes inscritos nas placas de ruas? O que a vista aparentemente oculta, mas que, ao olharmos além do visível, pode ser revelado?
Metodologia

O processo educativo consistiu em sete encontros semanais, nos quais foram discutidos o histórico da formação do espaço carioca e o impacto dessa trajetória na forma como vivemos a cidade hoje. Além dos encontros, a turma também participou de oficinas práticas de desenvolvimento de filtros de realidade aumentada no aplicativo Artivive, realizadas no Espaço de Arte, Ciência e Tecnologia do Sesc Tijuca.
As conversas realizadas durante os encontros subsidiaram a parte prática da residência, na qual o artista convidado, Pedro Pessanha, desenvolveu, junto aos participantes, obras-mapas — acervo da exposição — que contornam a vista do terraço do IHGB. Nessas obras, personagens históricos soterrados pelo tempo e pelo corpo da cidade são revelados por meio de filtros de realidade aumentada, sobrepondo a paisagem material ao legado cultural de quem contribuiu para a construção do nosso espaço, mas não recebeu o devido reconhecimento. Dessa forma, o projeto busca contribuir para a descolonização da história daquele território.

Com Pedro Pessanha
Profissional residente convidado
Artista negro e pesquisador carioca, formado em Artes e mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela UFF.
Seu trabalho busca compreender de que maneira os ritmos negros, mesmo diante de apagamentos históricos, continuam a ressoar nos corpos da cidade do Rio de Janeiro.
Desenvolve obras em diferentes meios, entre pinturas, quadrinhos e intervenções urbanas, investigando como as linguagens visuais podem contribuir para a construção de narrativas singulares.
Em 2024, foi curador da exposição Cyber Funk – Tecnologias de uma Cidade, apresentada no Laboratório de Atividades do Amanhã, do Museu do Amanhã, e realizou oficinas sobre tecnologias e territórios urbanos em diversas instituições culturais e educativas do Rio de Janeiro.
Gerência de Educação • Sesc RJ
Projeto CONSCIÊNCIAS
Residência Artístico-Pedagógica Ecos da Vista • Com Pedro Pessanha
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) • Rio de Janeiro, 2025
O Sesc RJ reafirma seu compromisso com a educação antirracista, a valorização da diversidade e a construção de espaços de escuta, memória e criação coletiva.
