Árvore de Baobá e a Ancestralidade Africana
Com o objetivo de implementar ações educativas e sistemáticas de combate ao racismo, o projeto Consciências é baseado nos conhecimentos produzidos pelas ciências humanas e sociais, tendo como proposta a execução de uma agenda de programação que aborda as questões étnico-raciais e seus múltiplos efeitos na população negra no Brasil, dentre os quais se destaca a violência insidiosa contra os afro-brasileiros que evidencia e acentua as formas de racismo. Sendo assim, pretende, com um olhar cuidadoso, promover ações educativas e, para tanto, tem no seu escopo mais geral ampliar as formas de diálogos sobre o racismo estrutural – advindo de um processo histórico, auxiliando no fortalecimento de espaços de trocas na perspectiva de uma tomada de consciência sobre justiça social.
Em consonância com os objetivos e a fundamentação teórico-prática do projeto, apresentamos a instalação artística Árvore de Baobá e a Ancestralidade Africana. Árvore sagrada para povos africanos, o baobá é considerado a árvore da vida e a identidade social de muitos povos africanos. É nesse sentido que vamos apresentar sua relevância para a compreensão e preservação desses legados culturais, ou seja, a relação dos baobás na valorização dos griots, da oralidade das histórias ancestrais passadas de geração em geração e da concepção sociocultural, dando o sentido da qual suas raízes representam os ancestrais e a memória da comunidade, enquanto o tronco simboliza as crianças e os jovens em crescimento.
A instalação artística Árvore de Baobá e a Ancestralidade Africana é uma obra criada por Davi Lourenço (@davi.rez), artista plástico que vem transformando resíduos em arte há décadas, em parceria com instituições brasileiras e estrangeiras. Formado em Design Gráfico, o artista tem como diferencial os trabalhos desenvolvidos com materiais recicláveis. Sucatas de banheiras transformadas em sofás, latas de refrigerantes em painéis, carrinhos de supermercados em cadeiras e outros materiais que iriam para o lixo, ganham um novo destino, tornam-se objetos úteis e belos para os olhos.
Davi Lourenço (@davi.rez) possui diversos trabalhos de destaque em unidades do Sesc Rio e em diversas outras empresas renomadas, como o grupo Globo, Prefeitura do Rio de Janeiro, Aeroporto Internacional Tom Jobim, Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, Cidade das Artes, Rio Design Week, Planetário da Gávea, entre outros. Sempre utiliza materiais recicláveis e coloca toques autorais em suas obras, muitas vezes inspiradas em elementos da natureza, como na obra aqui proposta.
Sobre o Baobá e suas principais características
Cientificamente o baobá Adansonia digitata L., é um gênero de planta com flor que agrupa as espécies de árvores das regiões tropicais áridas e semiáridas, tradicional em países como Madagascar e Senegal. Também chamado de imbondeiro, embondeiro ou calabaceira, o baobá pode alcançar 30 metros de altura e 10 metros de circunferência, sendo capazes de viver por séculos ou milênios.
O tronco do baobá é uma importante fonte de água, podendo armazenar até 120 mil litros de água. Florescendo uma vez por ano, suas folhas caem durante a estação seca, porém, em condições de umidade favoráveis permanecem na árvore durante o ano inteiro. Enquanto alimento, folhas novas e frescas são ricas em vitaminas que podem ser cozidas em molhos. Já as folhas secas quando maceradas ou utilizadas como chás auxiliam nos tratamentos de combate de doenças urinárias, diarreia e febre.
Na África lusófona o fruto do baobá é chamado de mucua, múcua ou “mukua”, rico em vitaminas e minerais, é também adocicado e ligeiramente ácido, com miolo seco e comestível. Da sua polpa se faz mingau, pirão, caldos, entre outros alimentos. As sementes do baobá podem ser apreciadas cruas como castanhas ou podem ser torradas, além de moídas, usadas no preparo de sopas.
A casca da raiz do baobá é muito utilizada na medicina tradicional africana. Já a casca da árvore, além de propriedades medicinais, suas fibras são utilizadas para fazer fios e cordas, até mesmo de instrumentos musicais, linhas de pesca, cestos e redes.
A maior espécime de baobá do mundo, o Sunland (ou árvore de Platland), situada na África do Sul, possui um perímetro de altura de 34 metros.
Acredita-se que o baobá chegou ao Brasil no início da colonização. Atualmente ele pode ser encontrado nos estados de Alagoas, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Pernambuco, estado que concentra o maior número de baobás catalogados, com mais de 150 exemplares.
O maior baobá do Brasil está localizado na Vila de Nossa Senhora do Ó, em Pernambuco, tem 350 anos de idade e conta com um tronco de mais de 15 metros de diâmetro. No Rio de Janeiro há apenas três espécimes em território fluminense: no Jardim Botânico da capital, na Ilha de Paquetá e em Quissamã.
Fontes consultadas:
LOPES, Nei. Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana. São Paulo (SP): Selo Negro, 2004;
WALDMAN, Maurício. O Baobá na Paisagem Africana: Singularidades de uma Conjunção entre Natural e Artificial. São Paulo (SP): Revista do Centro de Estudos Africanos da USP. 2012;
PAIXÃO, Marcelo. “Um Balanço das Ações Afirmativas para Afrodescendentes no Sistema de Ensino Brasileiro”. In: Relatório Direitos Humanos no Brasil 2010. São Paulo (SP): Rede Social de Justiça e Direitos Humanos. 2010;
SALUM, Marta Heloísa Leuba. A Madeira e Seu Emprego na Arte Africana: Um exercício de interpretação a partir da estatuária tradicional bantu. Tese de Doutorado em Antropologia Social. São Paulo (SP): Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). 1996;
UM PÉ DE QUÊ? BAOBÁ. Youtube, 25 de mai. de 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=YKNrjidtmjo