Na live “Releitura de acervos africanos: da reserva comunitária à exposição imperialista comercial”, realizada na quarta-feira (11/05), abordamos os resultados do projeto de Cooperação Internacional AHRC (Arts and Humanities Research Council), cujo objetivo é investigar como as comunidades rurais e urbanas podem fortalecer sua resiliência, promover sua sustentabilidade, e proteger e fomentar o seu patrimônio local através do uso de ferramentas criativas e digitais.
A história de grande parte do que é visto hoje como património da humanidade na África é resultado do contacto intercontinental (tratado por algumas literaturas como “descobertas”). No caso concreto de Moçambique, é um facto que uma boa quantidade do património material e imaterial foi erguido durante o tempo colonial, e a sua divulgação depende não só dos interesses locais, ou da boa vontade política ou bom senso da comunidade, mas depende também, e sempre, da vontade dos doadores e parceiros, estados e organizações que tem acordos de cooperação, com diversos interesses. É assim que entendemos porque são raros os monumentos em nome dos líderes tradicionais que venceram algumas batalhas de resistência colonial, enquanto são frequentes os monumentos dos líderes militares coloniais que aniquilaram líderes e população locais durante as guerras de conquistas.
É assim também que em muitas comunidades existem um património querido da comunidade, outro querido do poder político, e outro querido da ontem potência colonial, hoje tratada como comunidade internacional. Para que esses patrimónios não entrem em conflito, há que equilibrar a convivência através de estratégias que tragam ao publico e à comunidade o património da História Colonial contada pela narrativa local da tradição oral, muito mais respeitado pela comunidade local, mas invisível na narrativa oficial e nos programas e planos de valorização do património.
Innocent Abubakar
Docente na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Lúrio (FCSH) e Diretor do Centro de Estudos Culturais e Religiosos do Oceano Índico (CECROI), sediado na Ilha de Moçambique, província de Nampula, República de Moçambique.
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