Histórias em quadrinhos, cultura nerd e divulgação científica
Por Ana Paula Simonaci
A ciência constantemente aparece como elemento motivador da leitura e atrativo para os leitores, ainda mais em forma de histórias em quadrinhos, elemento tão presente na cultura nerd. Por meio do fascínio que algumas narrativas de ciência se propõem a tratar, a divulgação científica se torna um caminho prazeroso e enriquecedor, que atinge este público de forma certeira.
A divulgação científica iniciou-se no século XVII, e é na segunda metade do século XX que surgem os escritores-cientistas que mesclavam informação sólida com imaginação especulativa, realizando a divulgação cientifica por intermédio da literatura, como os autores Isaac Asimov e Carl Sagan. Mas o auge das tramas narrativas em elementos ligados a ambientes científicos se dá nos quadrinhos norte-americanos do final da década de 1920 e por toda a década de 30, com diversos personagens ligados à ficção cientifica – produção relacionada ao gênero Pulp – gênero de intensa penetração no inconsciente coletivo dos leitores do início do século 20. Este gênero desembocaria no aparecimento de narrativas com fundamentação científica nas histórias em quadrinhos. Por exemplo, é neste período que surgem as inúmeras histórias de super-heróis, cuja maior parte dos poderes extraordinários é cientificamente explicada.
Nas histórias em quadrinhos, a ciência surge sob sua forma mais elementar, com os personagens em geral sendo construídos como heróis desastrados, grandes vilões ou com base em visões preconcebidas do homem dedicado à ciência, com seus jalecos brancos e tubos de ensaios. Um dos grandes fascínios desse tipo de quadrinhos são as utopias futuristas, que trabalham o sonho primitivo da exploração de novos mundos, de adivinhação do futuro e da preparação da sociedade para as mudanças tecnológicas. De fato, muitas mudanças que ocorreram durante o século 20 foram previstas por algumas histórias em quadrinhos. Além de disseminar o avanço da ciência por meios lúdicos, os quadrinhos também foram utilizados como um veículo privilegiado para o ensino de ciências, em produções feitas especificamente para fins didáticos e pedagógicos.
Um dos impulsionadores contemporâneos desta forma de publicação que divulga ciência foi a cultura nerd. Esta cultura, estabelecida no século XXI, adotada como um estilo de vida, traz indivíduos com uma identidade pessoal e social com um repertório de práticas culturais ligadas ao consumo e à cultura midiática. A figura do nerd nasce já inserida na cultura da mídia e se relaciona fortemente com aspectos da indústria cultural: são ávidos consumidores de filmes de ficção científica, histórias em quadrinhos, action figures, séries, mangás e animes, etc e também grandes admiradores de ciência e tecnologia.
Podemos afirmar que as histórias em quadrinhos, potencializadas pela cultura nerd, colaboraram para que se atingisse uma conscientização coletiva sobre a importância de uma abordagem sistemática para solução dos problemas mais marcantes da sociedade, abordagem oriunda do desenvolvimento científico, já que muitas vezes facilitaram e até mesmo anteciparam muitas inovações tecnológicas, preparando o terreno para sua aceitação e disseminação na sociedade contemporânea.
Ana Paula Simonaci: pesquisadora, curadora, editora, poeta, doutora em Memória Social pela UNIRIO e Diretora da Revistas de Cultura Editorial.
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