Qual a importância das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação nas práticas educativas?
por Pedro Miguel Costa
O uso das novas tecnologias de informação e comunicação no contexto da sala de aula pode evitar aquilo que mais desgasta o pessoal docente: a falta de motivação e engajamento dos seus alunos! Tempos atrás, em uma conversa, alguém que trabalha diariamente com alunos afirmava: “De novas tecnologias eu não percebo nada.” A este comentário, de forma impulsiva, respondi: “Se não percebes, tens de perceber, tens de te atualizar!”.
Torna-se fundamental refletir no porquê de, nos dias de hoje, ser indispensável a existência de uma estreita relação entre a escola, professores e as tecnologias digitais da informação e comunicação.
Ao longo da História da Humanidade, há múltiplos exemplos que provam que a possibilidade de ter acesso rápido à informação é, do ponto de vista teórico, uma possibilidade de ter poder. Quer queiramos quer não, a eletricidade e a velocidade de acesso à informação passaram a ser indicadores fundamentais do desenvolvimento da sociedade.
Enquanto educadores, como podemos nós formar cidadãos responsáveis, críticos, criadores e transformadores da sociedade, se a educação não se adaptar às grandes mutações sociais, culturais e económicas criadas pela eclosão das novas tecnologias? A educação tradicional está, sem dúvida, cada vez mais separada das necessidades reais dos seus destinatários, na medida em que as economias transitaram de lógicas industriais para lógicas do saber. Uma vez que o mercado de trabalho necessita de mão de obra cada vez mais especializada no manejo dos sistemas de informação e de comunicação, é obrigação dos sistemas educativos atender a tal exigência, sob pena de ficarem totalmente ultrapassados! Não podemos ter escolas do século XIX, professores do século XX e alunos do século XXI, é necessária a sintonia entre estes três pilares para a educação do século XXI e o desenvolvimento de habilidades e competências essenciais para a formação integral dos estudantes.
O uso das novas tecnologias de informação e comunicação no contexto da sala de aula pode evitar aquilo que mais desgasta o pessoal docente: a falta de motivação dos seus alunos! Na verdade, todos sabemos que muitas vezes os assuntos abordados nas aulas não despertam interesse porque são apresentados de maneira muito formal e rígida, não deixando espaço ao trabalho autónomo ou de grupo, à colaboração e cooperação, ao levantamento de hipóteses, à exploração, pesquisa, resolução de problemas e desenvolvimento de projetos. As novas tecnologias permitem que os alunos aprendam fazendo coisas, em vez de aprenderem ouvindo dizer como é que as coisas devem ser feitas.
Porém, a introdução das tecnologias digitais no contexto escolar não tem sido fácil, não só porque existem sérios obstáculos em termos de espaço e funcionamento, mas também porque é exigido ao professor que repense e reorganize as suas estratégias de ensino. Enquanto no passado o professor detinha a autoridade da informação, com o novo sistema de ensino a sua autoridade passa a ser desafiada. Os alunos passam a ter a capacidade de procurar informação sobre vários assuntos, sendo, por isso, mais críticos e criativos! Este fato gera, por vezes, ansiedade e insegurança no pessoal docente! Estes sentimentos só poderão ser atenuados mediante a realização de mais formação, inicial e continuada, neste âmbito e com a interiorização por parte dos professores da noção de que a era do “professor sábio”, detentor do conhecimento, já faz parte do passado. O professor precisa ser um orientador, inovador, com capacidade de se moldar e adaptar às mais diferentes situações.
Como professor, tive a oportunidade de atuar em sala de aula, com alunos de diferentes níveis, utilizando diferentes recursos digitais e diferentes metodologias de ensino. Um exemplo prático consistiu no desenvolvimento de um projeto interdisciplinar para a construção de uma maquete de um foguete. Várias etapas foram delineadas, primeiramente entre os professores das diferentes disciplinas, para articulação se saberes, identificação de objetivos e conteúdos comuns, definição de métodos e instrumentos de avaliação. Em seguida, os alunos passaram por várias fases: pesquisa, exploração e investigação, trabalho colaborativo, interação, desenvolvimento, criação e apresentação. Para tal, realizamos algumas sessões por videoconferência com a Agência Espacial Europeia (ESA), na Holanda, que esclareceu as dúvidas dos alunos e apresentou sugestões para o desenvolvimento e criação da maquete. Por fim, os alunos tiveram a oportunidade de imprimir em 3D a maquete desenvolvida.
Enquanto formador de professores tenho a oportunidade de partilhar práticas e auxiliar na formação inicial e continuada destes importantes agentes educativos. Desde o desenvolvimento de ações sobre uso de jogos e ferramentas digitais na sala de aula, metodologias ativas e novas metodologias de ensino, divulgação científica em espaços formais e não-formais, à criação de pequenos vídeos, apresentando ferramentas digitais, que podem auxiliar os professores nas suas atividades letivas.
Num mundo em que a informação abunda nos mais diversos meios, o professor desempenha um papel determinante no sentido de ajudar os alunos a separarem o essencial do acessório, a verdade das fake-news, dado que ter acesso à informação não significa saber usá-la. Ajudar os alunos a perceber que muita da informação facilmente disponível não interessa, é ruído ou até enganosa, é algo fundamental nos dias de hoje.
Perante isto e tendo em conta o perfil dos alunos de hoje, pode-se concluir que na escola atual a não utilização das tecnologias digitais é algo incompatível com as necessidades reais da sociedade moderna. É necessário pensar na formação integral dos nossos estudantes, para saberem ser, estar, pensar e agir numa sociedade da qual todos fazemos parte e precisamos intervir. Desta forma, as tecnologias podem contribuir não só para auxiliar o excelente trabalho desenvolvido pelos professores, mas também desenvolver importantes habilidades nos estudantes, como o pensamento crítico, capacidade de resolução de problemas, responsabilidade, autonomia, cooperação e colaboração, entre outras.
Pedro Miguel Costa
Doutorando em Ciência, Tecnologia e Educação no CEFET/RJ
Professor, Pesquisador e Formador de Professores
Créditos da foto do banner: Mikhail Nilov